GLEBA TRIÂNGULO, A EPOPEIA DE UM POVO

Parte 2: Como surgiram as comunidades que constituíam a grande Gleba Triângulo de Tangará da Serra/MT

A forma como viviam e eram explorados, estes agricultores que abriram a grande Gleba Triângulo, no município de Tangará da Serra, que englobava as localidades de Corta Vara 1, Corta Vara 2, Pedrinhas, Mineiros, Goianos e a própria Triângulo, na década de oitenta, era praticamente desumana.

Aos moldes, dos antigos feudos medievais, onde a moeda de troca existente, pela derrubada da mata, até o plantio do pasto, era a parte produzida pelo próprio agricultor, que era explorado na venda de sua produção, e ainda tinha que deixar um percentual, para o grande proprietário das terras.

Para se ter uma ideia, a educação de seus filhos, ocorriam  nas escolas construídas de “pau a pique”, em mutirão, por eles mesmos, pois a administração municipal não podia edificar em local que não era público, e o grande latifundiário, não queria, de forma alguma, a fixação dos agricultores na área de suas terras, pois, sua meta era a transformação de todas as derrubadas em pasto. E, desta forma com professores pagos pela prefeitura, que se sacrificavam para viver nestes locais, onde sequer tinha energia elétrica, bem como água encanada.

A água era de bica, ou de poço, um (furo vertical na terra) para a coleta de água, e atendimento da demanda da escola, bem como, às vezes de uma família de agricultores. Também chamados de poços rasos ou poços de balde, que são esse com profundidade máxima de até 20 metros, e os professores tinham que puxar a água em baldes, no “sarilho”, para os alunos terem água para tomar. A prefeitura geralmente mandava filtros feitos de barro, muito usados na época, para melhor servir os alunos.

Com relação à saúde pública, era muito difícil, o atendimento muito precário, existia na época somente um Posto de Saúde no Distrito de São Jorge, que era o local mais próximo. Para se ter uma ideia, não existia o Sistema Único de Saúde, que só passou a funcionar após a promulgação da Constituição de 1988. Os casos mais urgentes eram atendidos somente na sede do município, isto é, em Tangará da Serra.

Na década de oitenta, quando do governador Júlio Campos, e do prefeito Antônio Porfírio de Brito, eu estava na chefia do Centro de Saúde, que pertencia ao Estado, e programamos um mutirão para toda a região, conseguimos trazer quatro médicos, e ficamos uma semana sediados no distrito de São Jorge, dormindo no chão na escola Estadual Petrônio Portela, onde inclusive o irmão do governador, que era médico, veio para ajudar neste mutirão. Eram atendidas mais de 400 pessoas por dia, em cada uma daquelas localidades, onde se realizavam consultas medicas, exames laboratoriais, e entrega de medicamentos. Mais de 2.400 exames laboratoriais foram realizados. E, testemunhamos, ao “vivo e a cores”, a epopeia destas bravas famílias, que abriram estas localidades.

As estradas, na época das chuvas, eram intransitáveis, somente a pé se conseguia sair das localidades. Tanto que as campanhas de vacinações, só aconteciam, pelo apoio incondicional do abnegado povo de Tangará da Serra, que nos auxiliava, com seus veículos e pessoas, para que pudessem ser realizadas nestas regiões as “Campanhas Nacionais de Vacinação”. E, para que isso acontecesse, a contento, partiam às 5 horas da manhã, do Centro de Saúde de Tangará da Serra,  com as caixas de isopor, com gelo e vacinas e uma pessoa treinada para realizar a aplicação das vacinas. Desta forma, com estas dificuldades, com estes sacrifícios, que este povo aguerrido, abriu e desbravou as terras da grande Gleba Triângulo em nosso município de Tangará da Serra.

Frente a todas estas dificuldades e outras, os trabalhadores rurais começaram a se organizar, e discutir a possibilidade de um forma mais humana, para resguardar as suas famílias, que os acompanhavam nesta brava luta, para domar estas terras brutas, mas altamente produtivas, pois, por mais que se esforçassem, nada sobrava para sustentar as suas proles…