3 crianças são estupradas por dia em MT

Dados da secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) apontam que o número de casos de estupro de vulnerável aumentaram 25% de 2017 para 2018.

No ano passado foram registradas 1.319 ocorrências contra 1.051, no ano anterior. A maioria dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes ocorrem em casa.

Titular da Delegacia de Defesa da Mulher, Criança e Idoso de VG, Cláudio Álvares Sant’Ana

“Em pelo menos 95% dos casos que recebemos nesta delegacia, quem pratica é padrasto, pai, irmão, avô, tio, vizinho ou amigo da família”, afirma o delegado titular Delegacia Especializada de Defesa da Mulher, Criança e Idoso de Várzea Grande (DEDM-VG), Cláudio Álvares Sant’Ana. Em geral, o crime ocorre mais de uma vez.

O que fazer para mudar este cenário?

Psicóloga Yasmin Chacur: falta prevenção

Para a psicóloga Yasmin Chacur, especialista em Psicologia em Saúde pelo Programa de Residência Multiprofissional do Hospital Universitário Júlio Muller, para combater a violência sexual contra crianças e adolescentes, faltam, não somente em Mato Grosso como no país, ações de prevenção que trabalhem com temas como o conhecimento do corpo, questões culturais de gênero e, em especial, as que dizem respeito aos padrões adotados de feminilidade e masculinidade.

“Para mudar este cenário é importante criar ambientes que sejam acolhedores e inclusivos nos espaços frequentados pelas crianças e adolescentes, nas famílias, escola e igrejas. Um trabalho de prevenção se faz com informação, especialmente sobre o funcionamento do corpo, a construção da sexualidade, visando empoderar nossas crianças”.

Nesta linha, ressalta ser importante desmitificar a ideia que falar de sexualidade é ensinar as crianças a ter relação sexual.

Visando isso, o delegado Cláudio, por conta própria, começou a dar palestras em escolas de Várzea Grande. Ele já esteve em 10 escolas em Várzea Grande e Nossa Senhora do Livramento.

Nas unidades, busca esclarecer e explicar como é que acontece um abuso sexual. “Como dou aulas, sou professor, decidi dedicar um pouco não somente para dar aulas para alunos de cursinho, mas dedicar um pouco do meu tempo em prol da sociedade. Vou com a equipe da delegacia, fazemos a palestra e panfletagem. Levamos para dentro da escola para mostrar a importância desse crime”, detalha.

Esse é o primeiro mecanismo criado pelo delegado para tentar coibir esse crime. Nas palestras, ele explica para as crianças como identificar o crime e fazer a denúncia. A equipe ajuda a criança a se sentir confortável e a lidar com a situação. “ Muitas vezes, a criança ou o adolescente está sendo vítima e não sabe como pedir socorro. É por isso que vamos para dentro das escolas no sentido de ajudar, abrir a cabeça deles e falar que a Polícia Civil está ali para ajudar, não somente no sentido de punir o criminoso, mas para ajudar a vítima”, fala.

Delegado Cláudio faz palestras em escolas, tentando conscientizar crianças, jovens e adultos para esta realidade

A Delegacia Especializada de Defesa da Mulher, Criança e Idoso , conta com uma equipe formada por assistentes sociais e psicólogos.

Pais também podem ficar atentos a alguns sinais, já que crianças e adolescentes avisam de diversas maneiras e, na maioria das vezes, não falam das situações de violência sexual que são submetidos.

“Em geral, o abusador convence a criança de que ela será desacreditada se revelar algo; que ela gosta daquilo e quer que aconteça; ou que é igualmente responsável pelo abuso e será punida por isso.”

Estupro

O ministério da Saúde considera violência sexual os casos de assédio, estupro, pornografia infantil e exploração sexual. Dentre as violências sofridas por crianças e adolescentes, o tipo mais notificado é o de estupro. Pela lei brasileira, o estupro é classificado como o ato de “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”.

Segundo o boletim do ministério da Saúde, a ocorrência do estupro provoca diversas repercussões na saúde física, mental e sexual de crianças e adolescentes, além de aumentar a vulnerabilidade às violências na vida adulta.

Para mudar esse cenário é importante criar ambientes saudáveis, acolhedores e inclusivos nos espaços frequentados pelas crianças e adolescentes. Em visita ao RD News, a reportagem perguntou ao governador Mauro Mendes (DEM) se existe algum plano de governo para coibir esse crime.

Para Mauro, a prevenção é o caminho correto e adequado. Ressalta, entretanto, que falta dinheiro e cita como exemplo o fato do Estado ainda estar recuperando viaturas.“Nós assumimos em janeiro e metade das viaturas da Policia Civil e Militar, tinham sido recolhidas. E nós ainda não conseguimos pagar para que sejam devolvidas todas. Temos 80% devolvidas, mas ainda faltam 20%”.

Vítima

Para V., que foi vítima de estupro aos 11 anos, é importante a realização de campanhas com palestras que demonstrem o que caracteriza abuso e estrupo de vulnerável em espaços ocupados por famílias, crianças, professores e profissionais que trabalham com o público de crianças e adolescentes.

” A prevenção que trabalha com temas como o conhecimento do corpo, questões culturais e, em especial, as que dizem respeito aos toques de carinho ou toque de abuso. Com metodologias didáticas separadas por faixa de idade. Um estupro ou violência sexual é uma marca que levamos para o resto da vida. Feridas que não se cicatrizam”, pontua.

Fonte: RD News

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